Entre mil outras coisas, as Artes Marciais são também atividades físicas.
Portanto, o professor de Artes Marciais é um trabalhador que ensina, entre mil
outras coisas, uma das práticas corporais historicamente produzidas pela
humanidade. A visão das Artes Marciais como meras atividades
físicas, além de superficial, também é a mais popular, comum e frequente. No Brasil, essa visão costuma
levar os profissionais de Educação Física a apoiarem a regulamentação do
professor de Artes Marciais pelo CONFEF, o Conselho Federal de Educação Física.
O Conselho argumenta que a presença de aquecimento, alongamento e treinamento
físico em geral, nas aulas de Artes Marciais, exige que se conheça
profundamente anatomia, fisiologia do exercício, biomecânica, pedagogia do
esporte, antropometria e outras ciências que não fazem parte do currículo
obrigatório do professor. Essa é uma conclusão ingênua (ou talvez perversa), porque
ignora as mil outras coisas que constituem uma Arte Marcial. Ignora as mil
outras coisas que caracterizam o trabalho do professor de Artes Marciais.
Listemos algumas:
Didática Marcial; Ética e Moral; Códigos de Conduta; Cortesia; Técnicas de
Relaxamento Mental; Meditação; Psicologia do Combate; Inteligência Emocional
Marcial; Dinâmica de Grupo Marcial; Estratégias de Prevenção e Defesa Pessoal;
Código Penal; Cultura Oriental; História das Artes Marciais; Filosofia das
Artes Marciais; Metafísica; Técnicas Tradicionais de Respiração, de Reanimação e Pontos
Vitais; Medicina Alternativa e muito mais.
Apresentada esta visão muito mais realista e honesta do trabalho de professor de
Artes Marciais, pode-se até ficar em dúvida se esta profissão deveria ser
regulamentada pela Pedagogia, ou Psicologia, ou Filosofia ou algum órgão de
preservação de patrimônios culturais e folclore, mas no Brasil é o CONFEF quem
costuma tentar absorver para si o controle dos profissionais de Artes Marciais. A Educação Física é uma ciência específica, criada como uma especialidade para educar os corpos nas
sociedade urbanas e industriais. Ela simplesmente não tem recursos para regulamentar uma
atividade praticada desde os primórdios da humanidade com um currículo tão
vasto e abrangente quanto o listado acima.